Com uma estreia promissora,
I Love Paraisópolis prometia muito quando começou. O primeiro capítulo cravou 29 pontos no Ibope da Grande São Paulo e teve grande repercussão nas redes sociais. A novela fechou com uma média geral de 24 pontos, a mais alta dos últimos três anos (
Sangue Bom, de 2013, fechou em 25).
Apesar dos números considerados bons, com o passar do tempo, a trama foi perdendo fôlego à medida que perdia público – quase 1 ponto por mês. Isso ajuda a explicar o seu desempenho.
A boa audiência e repercussão da novela se deveram, principalmente, à popularidade de Bruna Marquezine e Caio Castro (com uma legião de fãs nas redes sociais, que sempre alavancam o “buzz” sobre os atores) e à escalação do elenco de coadjuvantes, em tipos carismáticos e divertidos.
Não seria exagero afirmar que os personagens paralelos “carregaram a novela nas costas” – ainda que, muitas vezes, suas histórias não passassem de esquetes de humor.
I Love Paraisópolis foi originalmente concebida para o horário das seis e tinha o título provisório de Lady Marizete. Com a mudança de horário, investiu-se pesado nas tramas paralelas com comédia (mais condizentes com a faixa) e o título foi alterado sob a alegação de que eram duas protagonistas: além de Marizete (Bruna Marquezine), a sua irmã Danda (Tatá Werneck).
Todavia, com o desenrolar da novela, percebeu-se que 1) Danda não era protagonista, mas apenas mais uma personagem coadjuvante de humor, e 2) a trama central por si só (a história de amor de Mari e Ben) não rendia uma novela – nem das sete nem das seis! Mari e Ben começaram quentes, mas os conflitos entre o casal esgotaram-se na segunda metade da trama, com o casamento. Foi quando Grego e Margot (Caio Castro e Maria Casadevall, numa química já testada anteriormente) dominaram o interesse romântico.
Marizete, sempre de cara fechada, fez Marquezine parecer pouco à vontade na pele de sua personagem. Com Maurício Destri, formou um casal apático, com pouca química na tela.
Caio Castro, inicialmente vendido como o bandidão de Paraisópolis, acabou se tornando um personagem fofo com cara e fama de durão, mas que não metia medo nem em formiga.
Conclusão: a trama central foi se esvaindo com o passar do tempo. Ao final, já não se sabia mais do que a novela se tratava.
Sobrou para os coadjuvantes, na ausência de uma trama central cativante e forte. E aí I Love Paraisópolis mostrou o seu diferencial. Num elenco bem escalado, a novela foi recheada de momentos divertidos, com personagens carismáticos em situações engraçadas. Destaque para a direção (equipe de Wolf Maya), que abusou de clipagem com efeitos sonoros que remetiam a desenhos animados. E o roteiro criativo de Alcides Nogueira e Mário Teixeira.
Mérito também do elenco, principalmente Letícia Spiller (Soraya), Nicette Bruno (Izabelita), Fabíula Nascimento (Paulucha), Babu Santana (Javai), Tatá Werneck (Danda), André Loddi (Paletó), Paula Barbosa (Olga), Frank Menezes (Júnior), Olívia Araújo (Melodia), Eduardo Dusek (Armandinho), Paula Cohen (Rosicler), Zezeh Barbosa (Dália), José Dumont (Expedito), Tuna Dwek (Ramira), Mariana Xavier (Claudete), José Rúbens Chachá (Fradique), Ilana Kaplan (Silvéria), Luana Martau (Mirela) e Alice Borges (Tinoca).
Elogios para a performance de Letícia Spiller, numa personagem cheia de nuances, ora vilã, ora engraçada, ora humanizada. O sotaque paulistano exagerado do início incomodou, mas foi amenizado.
Nicette Bruno cativou com sua Izabelita, numa abordagem pertinente sobre o Alzheimer.
Caio Castro fez uma composição interessante de Grego, ainda que caricato.
Tatá Werneck, criticada pela dicção ruim, usou o problema a seu favor, quando Danda começou a enrolar no inglês (embromation).
A trilha sonora não se limitou ao funk ou rap de periferia, como se poderia imaginar.
Além de dois meninos cantores, a novela mostrou ainda o viés artístico da comunidade, como um núcleo com uma escola de balé.
Outro ponto positivo foi a forma como foi abordada a comunidade de Paraisópolis. Ainda que fantasiosa (seria impossível mostrar a realidade nua e crua no horário), a novela nunca deixou de reivindicar questões sociais pertinentes. Não escancarou violência ou problemas públicos como saúde ou transporte – mas foram citados. Também abordou o racismo e o preconceito social de forma inteligente e informativa.
Paraisópolis é uma das maiores comunidades de São Paulo. Localizada na zona sul da capital paulistana, tem cerca de 100 mil habitantes e um milhão de metros quadrados. Por lá tem, pelo menos, quatro linhas de transporte público e um comércio ativo, que inclui bancos, lojas de departamento, agências de viagem, dentre outros. Uma série de atividades culturais e esportivas é oferecida para as crianças matriculadas nas escolas, sendo o balé e a Orquestra Filarmônica de Paraisópolis as grandes referências, reconhecidos mundialmente por sua excelência, assim como artistas plásticos locais. Nas ruas, as festas chamadas de “pancadões” reúnem milhares de jovens com carros de som potentes e que embalam os grupos que dançam noite adentro.
Além de Paraisópolis, outros locais tradicionais de São Paulo, como o bairro do Morumbi, a Rua 25 de Março, a Avenida Paulista e a Rua Oscar Freire, também serviram de cenário para as cenas gravadas na cidade.
A equipe de produção também foi gravar em Nova York. Nos onze dias em que esteve em Manhattan, a equipe passou por locações como Grand Central, Washington Square, Central Park, Times Square, Gantry Plaza, Queens e Highline.
Uma cidade cenográfica de cerca de dez mil metros quadrados inspirada em Paraisópolis foi criada no Projac (RJ) para abrigar cenários como a padaria de Fradique (José Rubens Chachá), a escola de balé de Isolda (Françoise Forton), a casa de Eva (Soraya Ravenle), a loja de Dália (Zezeh Barbosa), dentre outros cenários.
Estevão Conceição, considerado o Gaudí brasileiro, e Berbela, artista plástico que trabalha com a sucata de carros, dois dos maiores ícones de Paraisópolis, também deram uma consultoria e emprestaram seus olhares especiais, a fim de inspirarem na construção final da cidade cenográfica.
Para a kombi de Rosicler (Paula Cohen) e para as motos da trupe de Grego (Caio Castro), a arte do grafite deu um olhar único para cada um dos veículos. Com trabalhos feitos por Gustavo e Otávio Pandolfo, mais conhecidos como Os Gêmeos, os veículos ganharam um colorido único que se assemelha à arte de Paraisópolis.
Para transformar Caio Castro em Grego, cortes de cabelo desenhados, acessórios pesados, camisetas e calças jeans, com tênis de marca, mostram o poder do chefe da comunidade. Só uma das tatuagens do personagem foi aplicada pela equipe: todas as outras são do próprio ator e aproveitadas para compor o visual.
A atriz Caroline Abras – a Ximena, braço direito de Grego – raspou a lateral do cabelo, escureceu os fios e alongou para ter um look mais forte, além de ganhar uma tatuagem aplicada no braço. Sua maquiagem era feita com técnicas de visagismo, aprofundando e afinando os traços do rosto da atriz para mudar as expressões e reforçar a linha andrógina.
A abertura, produzida em stop motion, com cenas fotografadas quadro a quadro, foi ilustrado com esculturas do mecânico Antônio Ednaldo da Silva, conhecido como Berbela, artista e morador de Paraisópolis. A Globo encomendou a ele peças que remetessem ao universo da trama, que foram produzidas com sucata e materiais reciclados. As peças de arte foram fotografadas ao longo de cinco dias de trabalho, originando uma sequência de cenas animadas e ilustradas com cores vibrantes.
Já o tema da abertura (A Cor do Brasil) foi composto e interpretado por Victor Kreutz, jovem de Paraisopolis. Kreutz foi descoberto pela própria produção da novela, quando se candidatou a um teste para o elenco de apoio. Nessa apresentação, ele mostrou a canção composta, que acabou agradando a direção e foi parar na abertura da novela.
Participação especial da apresentadora Fátima Bernardes, dos cantores Luan Santana, Tiê, Pablo, Vitor Kreutz, Ludmila, Levi Lima e Sandy, e da Banda Uó.
Trilha Sonora Volume 1
![iloveparaisopolist1]()
01. A COR DO BRASIL – Victor Kreutz
(tema de abertura)
02. COISAS – Ana Carolina
(tema de Margot)
03. THINKING OUT LOUD – Ed Sheeran
(tema de Ben e Mari)
04. SIGNS – Claudia Leitte
05. EU QUERO, EU GOSTO – Jamz
(tema de Gabo e Soraya)
06. A NOITE (LA NOTTE) – Tiê
(tema de Mari)
07. FOR YOUR BABIES – Simply Red
(tema de Soraya)
08. ALL ABOUT THE BASS – Meghan Trainor
09. ELAS GOSTAM ASSIM – Projota participação Marcelo D2
(tema de Grego)
10. CATRACA – Banda Uó featuring Mr. Catra
11. NINGUÉM SEGURA ESSA MULHER – Tchê Garotos
(tema de Danda)
12. I GET A KICK OUT OF YOU – Ronaldo do Canto e Mello
(tema de Soraya)
13. BON VIVANT MANEIRO – Pretinho da Serrinha
(tema de Jurandir)
14. NÃO ENCHE – Mosquito
15. A LOBA – Alcione
(tema de Eva)
16. O AR QUE EU RESPIRO – Dienis
Trilha Sonora Volume 2
![iloveparaisopolist2]()
01. BOOM CLAP – Charli XCX
02. CIRANDA DA BAILARINA – Sandy e Orquestra Filarmônica De Paraisópolis (tema de Lilica)
03. PATRICINHA DA FAVELA – MC Leozinho
04. SOLTA NA NOITE – Pollo (participação de Sorriso Maroto) (tema de Natasha)
05. TE ENSINEI CERTIN – MC Ludmila
06. PORQUE HOMEM NÃO CHORA – Pablo (tema de Lindomar)
07. SERIA TÃO FÁCIL (SO EASY) Tânia Mara (participação de Brian McKnight) (tema de Tomás e Paulucha)
08. NÃO TÔ VALENDO NADA – Henrique & Juliano (tema de Claudete)
09. UPTOWN FUNK – Mark Ronson featuring Bruno Mars
10. MINA FEIA – Seu Jorge
11. AQUELES OLHOS – Dom M (tema de Grego)
12. ESCREVE AÍ – Luan Santana (tema de Danda e Cícero)
13. VOCÊ É TUDO – Jammil
14. PRAZER, PARAISÓPOLIS – Atozero4 (tema de locação: Paraisopolis)
15. LOVE ME LIKE YOU DO – Ellie Goulding
16. WOMAN TING – Ce’Cile
Tema de Abertura: A COR DO BRASIL – Victor Kreutz
Negro branco
Pardo, colorido
Caucasiano
Todos em um grito de não
Ao preconceito
Viva a miscigenação!
Mistura de raças
Somos a cor do Brasil
Brasil, Brasil, Brasil!
Somos mistura, comunidade
Aceitamos todos
Então corre e chega aí
E somos gratos
Sorrisos fartos
A felicidade mora aqui
Lá lá lá lá…